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Os seios

Era agora grande a curiosidade (não pelo amor: uma desilusão demorada de esquecer). Queria mesmo se enveredar por aquela região tão atraente do corpo de uma mulher, mas só com os olhos. Por enquanto. Contentava-se, então, em olhar a desejada região do colo feminino em quase todas as mulheres que via. Tinha preferência por aqueles colos levemente pintados, em sardas ferruginosas. Talvez não eram o interesse ainda os seios. Ou talvez se contentasse com o prenúncio deles, com a sua parte visível na silhueta feminina.

À noite acordava suado, atônito. Ele sabia que não podia ainda ter desejos de tocá-los, de apalpar os seios de uma mulher. Bastava fixar o olhar em sua parte permitida. Mas não se contentava com a visão oferecida pelas meninas de sua idade. Nelas, eles não tinham a voluptuosidade esperada. Era preciso esperar mais tempo, e o seu desejo de ver era urgente. Todas estranhavam, então, sua falta de interesse. Por mais que se exibissem, que se inclinassem para ele, não havia um olhar penetrante.

Ele sabia que seus colegas de colégio se masturbavam, sempre que podiam, pensando em meninas e seios, seios fartos, seios pequenos, qualquer um. Ele? Ele evitava (vai entender!). Ele alimentava pensamento e preferia guardar o gozo para o momento sublime da primeira experiência, para o momento em que teria, em suas mãos, a fonte primeira da vida. Ao menos tentava (nem sempre conseguia).

Às vezes se perguntava sobre seu interesse por seios. Imaginava que seria porque, em viagem de férias, viu sua jovem tia se despir para uma rápida ducha. Mais tarde, por influência de explicações adultas, ainda se perguntava se poderia ter a ver com alguma coisa mal resolvida com sua mãe. Mas não se importava, nesse momento original do querer, com explicações. Esse desejo era para ele um motivo, uma esperança, coisa que alarga a vida, na longa espera.

No colégio, esperava sempre as aulas das sextas-feiras, quando sua professora de ciências, por promessa, se vestia de branco, exibindo um sutiã com um pequeno coração em cada ponta de mamilo. Ela não deve ter aprendido que quando se veste branco deveria se vestir peça íntima da cor da pele. E lá estava a professora, desaprendida dessa lição. Suas taças ficavam, assim, à mostra. E ele adorava distanciar-se das ciências, enquanto viajava por dentro daqueles dois corações convidativos. Mais tarde, ele ainda descobriria que o pudor da mulher está todo nos seios. Quando ela está nua e alguém a surpreende, suas mãos imediatamente protegem da visão alheia esta parte superior do corpo, deixando o resto à mostra. De fato, a nudez da mulher está nos seios à vista.

Um dia, o mocinho ouviu uma briga na vizinhança. Briga de cidade pequena, onde todo mundo se intromete. A rua em alvoroço brada que Cleó saiu correndo seminua pelas ruas, porque estava apanhando do homem que morava com ela. Cleó era uma prostituta, aliás, uma ex-prostituta, uma mulher da vida que resolveu largar a vida e se entregar a um único homem. Talvez antes Cleó não fosse alvo de seu desejo. Talvez não quisesse ver os seios pela primeira vez dessa forma, não os de uma prostituta. Haveria de esperar. Mas Cleó agora era uma mulher de bem. Mesmo que fosse ainda mal falada. Valeria a pena, então, saltar do duro sofá (aquele da sintética napa amarela) e ir ver a cena do lado de fora. Foi o que fez.

Na rua, viu Cleó ainda coberta com um vestido solto, gritando alto para toda a plateia: “Naldo está me batendo, vejam o que ele fez com meus seios”. O mocinho não se importou com a tristeza da cena, uma mulher horrivelmente assustada com as coronhadas que havia levado. Na verdade, aguardava enlouquecidamente o momento em que ela poria para fora os esperados seios. Nem se lembrou que Cleó largou a vida quando se tornou tísica. Nem percebeu o frágil corpo que se desnudava para a rua. Olhou apenas fixamente para seu colo, com o desejo de ter pela primeira vez a visão que parecia ter sempre esperado.

O coração acelerado parecia estrondar em seu peito. Cleó enfiou as mãos pelo vestido e de lá retirou seus seios. O jovenzinho não entendeu, não esperava ver aquela cena, não havia sido aquilo que desenhou em sua mente por tanto tempo. Vê apenas duas bolas murchas, compridas, penduradas, arranhadas, num frágil corpo de uma mulher agora visivelmente doente. Toca a parte de baixo de seu corpo e vê que está molhado, todo molhado, mas não sentiu nenhum gozo, não se lembrava do momento em que uma fagulha de choque toca nossas espinhas e nos brinda com o orgasmo. Seu pênis estava apenas murcho, tão murcho e pendurado quanto os seios de Cleó. O pequeno moço voltou para casa, dirigiu-se ao banheiro (tão silencioso). Queria agora apenas tomar um banho e dormir.

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